Como uma unidade de saúde na Região Amazônica reduziu o número de infecções hospitalares

Equipe multiprofissional do Hospital Regional de Santarém desenvolveu projeto que reduziu em 30% os casos de infecção hospitalar na UTI Adulto

As infecções hospitalares, adquiridas dentro de unidades voltadas para a assistência em saúde, ocorrem geralmente em enfermarias e UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), sendo transmitidas entre pacientes, acompanhantes e se as práticas e medidas de segurança não são adotadas de forma devida.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que a taxa de infecções hospitalares atinja 14% das internações. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), revelam que cerca de 234 milhões de pacientes são operados por ano em todo o mundo. Desse total, um milhão acaba falecendo em decorrência de infecções hospitalares. Outros sete milhões apresentam algum tipo de complicação no pós-operatório.

Em Santarém, no Estado do Pará, o Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) conseguiu reduzir em 30% as principais infecções hospitalares relacionadas a procedimentos invasivos. O resultado foi alcançado a partir da execução de ações que integram o Projeto Colaborativo “Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil”, do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS).

O HRBA é referência para uma população estimada em mais de 1,1 milhão de pessoas residentes em 20 municípios do Oeste do Pará, e o resultado alcançado faz parte das ações do primeiro ciclo do projeto, que ocorreu de janeiro de 2018 a junho de 2019. O hospital é uma unidade de atendimento público do Governo do Estado, sendo gerenciado desde 2008 pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, sob contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

A redução foi alcançada após o hospital adotar atitudes simples, como a “Hora D de higienização das mãos” com horários fixos de lavagem às 11h, 16h e 21h; avaliação da técnica correta de higiene das mãos, por meio do método de bioluminescência; instalação de etiquetas alusivas nos recipientes de álcool em gel e sabão, para facilitar a reposição rápida. O Hospital ainda instituiu o “Projeto Envolver”, que permite que o acompanhante/visitante dos pacientes reconheça os colaboradores que adotam as práticas corretas de higiene das mãos, colocando selos nos crachás.

O hospital conseguiu reduzir a incidência da infecção hospitalar em casos de Pneumonia associada a Ventilação Mecânica (PAV) e do Trato Urinário associadas à sonda vesical de demora (ITU/SVD). Em 2017, antes da implantação do projeto, havia uma incidência de 30 a 36 casos de infecções por ano. Em 2018, os casos caíram para 12. Neste ano, até o momento, seis casos foram notificados.

O território do Pará abrange boa parte da floresta Amazônica, a maior floresta tropical do mundo. Neste contexto, além da grande variedade de culturas, climas e etnias, os desafios enfrentados na região envolvem o atendimento especializado em saúde à locais remotos, acessíveis em algumas ocasiões apenas por meios fluviais.

 

As mudanças em busca de resultados

O trabalho realizado pelo Hospital Regional de Santarém faz parte do Projeto Colaborativo do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS), em parceria com os cinco Hospitais de Excelência: Hospital Alemão Osvaldo Cruz (SP); Hospital do Coração (SP); Hospital Israelita Albert Einstein (SP); Hospital Sírio Libanês (SP) e o Hospital Moinhos de Vento (RS).

O projeto tem como objetivo orientar os profissionais de saúde dos 119 hospitais públicos participantes, que prestam serviço para o SUS, quanto às melhores práticas para o cuidado do paciente.

“A nossa meta era baixar os casos de infecção relacionados a pneumonia. Nós conseguimos superar essa meta. Já a infecção do trato urinário, reduzimos tanto, que estamos atualmente com dois meses sem registros”, celebra a supervisora do Controle de Infecção Hospitalar do HRBA, Sheila Oliveira.

O coordenador da UTI Adulto, o cardiologista Antônio Carlos, comenta os resultados positivos e ressalta a importância do trabalho multidisciplinar. “Isso é uma vitória importante. Conseguimos estes resultados por meio do esforço multidisciplinar, pois envolveu médicos, enfermeiros, equipes de limpeza, entre outros. Melhor ainda é dizer que esses resultados demonstram que mais vidas estão sendo salvas em nosso hospital”, explicou.

As infecções contraídas em ambientes hospitalares podem trazer risco de morte. No entanto, o contágio também pode ocorrer em clínicas e consultórios. Para o diretor Hospitalar do HRBA, Hebert Moreschi, independentemente do local onde haja a infecção, a redução dos casos simboliza mais vidas salvas.

“O HRBA é referência nos procedimentos de altíssima complexidade, na Região Amazônica. Este projeto faz parte de um complexo e extenso conjunto de esforços para tornar o hospital uma excelência mundial em gestão hospitalar, dentro de um programa de qualidade e segurança muito bem consistente e implantado há alguns anos. Conseguimos tornar isso realidade com os esforços de uma equipe multidisciplinar e com desempenho de diversas áreas diferentes. Os grandes problemas que as UTIs brasileiras enfrentam, ainda é, a infecção hospitalar. O trabalho realizado no HRBA traz um controle ainda maior em relação as infecções, com indicadores cada vez mais favoráveis”, afirma Moreschi

Além da Unidade de Terapia Intensiva, o HRBA conta com procedimentos de oncologia, neurocirurgia, ortopedia, transplantes realizados e cirurgia cardíaca. Na região da floresta Amazônica, 14 hospitais localizados nos estados do Pará, Rondônia, Mato Grosso, Acre e Amapá – a maioria, pública – são gerenciadas pela Pró-Saúde, uma entidade filantrópica com mais de meio século de atuação na gestão em saúde.

A Pró-Saúde possui seis hospitais no estado do Pará com certificação da Organização Nacional de Acreditação (ONA), a mais importante e respeitada entidade avaliadora da qualidade dos serviços de saúde do Brasil. Destes, três já alcançaram o nível máximo, acreditado com Excelência de nível 3 (ONA 3). São eles os hospitais Regional do Baixo Amazonas, em Santarém, e Regional Público da Transamazônica, em Altamira, e o Hospital Público Estadual Galileu, em Belém. Além disso, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, primeira unidade pública e especializada em câncer infantojuvenil na região amazônica, já recebeu neste mês a indicação para acreditação ONA 3.

 

 

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